A avaliação do ciclo de vida (LCA na sigla em inglês), realizado pela entidade fundada por empresas como a Inditex, H&M, Kering e C&A, analisou três épocas de cultivo, entre 2020 e 2023, centrando-se na Índia, onde o Organic Cotton Accelerator (OCA) trabalha com mais de 100 mil agricultores.
Abrangendo cinco estados indianos – Madhya Pradesh, Maharashtra, Odisha, Gujarat e Telangana –, os resultados indicam que o cultivo de algodão orgânico tem uma pegada ambiental menor em várias categorias avaliadas, incluindo as alterações climáticas, a utilização da água, a acidificação e a eutrofização, quando comparado com sistemas agrícolas convencionais.
Conduzido pela South Pole, empresa especializada em consultoria climática, a investigação analisa dados validados por mais de 18 mil agricultores e três contextos de rega diferentes: alimentado pela chuva, por sistemas de rega artificiais ou por uma mistura de ambos.
Especificamente, o estudo conclui que as emissões diretas dos campos são os principais fatores que contribuem para as alterações climáticas, a acidificação e a eutrofização. Por exemplo, estas emissões representam entre 45% e 99% (com uma média de 88%) do impacto na maioria das categorias (10 em 16) no grupo de controlo “irrigação”, ou seja, com sistemas em que mais de 70% do abastecimento total de água provém da irrigação. Além disso, os autores apontam que os impactos da utilização da água variam significativamente em função dos métodos de rega, sendo que os sistemas à base da chuva, isto é, em que mais de 70% do abastecimento total de água provém da precipitação, apresentam os impactos ambientais mais baixos.
A investigação refere ainda que a utilização de fertilizantes, tanto sintéticos como naturais, é um fator determinante no impacto ambiental da produção de algodão, tendo em conta a utilização de recursos e o consumo de energia. De acordo com o relatório, atividades como o descaroçamento e o transporte têm impactos relativamente menores em todas as categorias, mas a otimização destas áreas é vista como um ponto benéfico adicional para a sustentabilidade.
«O primeiro LCA regional do OCA não fornece apenas uma visão local única sobre os benefícios ambientais do algodão orgânico para o nosso setor, como também nos ajuda a identificar como aprofundar o impacto do nosso trabalho e melhorar os próprios sistemas de dados do OCA para que possamos fornecer LCAs cada vez mais precisos no futuro – mostrando o impacto positivo proporcionado pelo trabalho dos agricultores no nosso programa», sublinha Bart Vollaard, diretor executivo do OCA.
Recomendações e futuro
As conclusões do estudo sugerem que a redução do impacto ambiental da produção de algodão requer uma combinação de estratégias e que a promoção do algodão orgânico é um passo-chave, devido ao recurso a práticas agrícolas mais sustentáveis e à sua menor dependência de elementos sintéticos.
Os agricultores de algodão orgânico demonstram impactos ambientais mais baixos em todas as categorias avaliadas (exceto na eutrofização da água doce) em comparação com os agricultores convencionais com práticas de rega semelhantes. Adicionalmente, segundo o estudo, a adoção de métodos de rega mais eficientes e a melhoria da gestão dos fertilizantes podem reduzir significativamente a pegada ambiental do cultivo de algodão. O aumento da eficiência energética nas explorações agrícolas também ajuda a reduzir o consumo de recursos e as emissões de gases com efeito de estufa, de acordo com o relatório.
O OCA tenciona realizar mais LCAs regionais, para avaliar com maior rigor a contribuição do algodão orgânico, no sentido de enfrentar os desafios climáticos e sociais e a perda de biodiversidade. As marcas associadas à entidade têm acesso exclusivo aos dados de avaliação de ciclo de vida específicos da região, permitindo-lhes acompanhar o progresso e moldar as suas estratégias de aprovisionamento.
Este estudo regional destaca ainda a importância da colaboração do setor para alcançar a sustentabilidade à escala, com o OCA a incentivar o setor têxtil, as organizações não governamentais, os decisores políticos e os fornecedores a utilizar estes conhecimentos para apoiar práticas e polícias sustentáveis.
Caroline Peyer, responsável de LCA e controlo de impacto ambiental na South Pole, afirma que o «conjunto de dados abrangentes, regionalmente relevantes e fiáveis são cruciais para que as marcas e os retalhistas do setor têxtil tenham total visibilidade dos impactos ambientais dos seus produtos e tomem medidas significativas sobre o clima. Estamos orgulhosos da parceria com o OCA neste estudo inovador que oferece um extenso conjunto de dados a nível das explorações agrícolas, fornecendo informações valiosas sobre os impactos ambientais de diferentes sistemas agrícolas, sublinhando os benefícios do cultivo de algodão orgânico. A grande dimensão da amostra, combinada com a verificação por terceiros, aumenta a robustez e a fiabilidade dos resultados – um passo em frente para capacitar as empresas a conceberem estratégias de aprovisionamento sólidas».